sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Só eles merecem....NÃO! A gente também quer.

Por que Pavuna precisa de uma Lona Cultural? Pelo mesmo motivo que o bairro de Botafogo tem o Canecão e a Lapa o espaço do Circo Voador. Pode não parecer uma resposta clara, isto para aqueles que não querem entender que as populações dos bairros adjacentes e Baixadas Fluminense necessitam deste instrumento de humanização. Isto mesmo, porque quando se dá a voz a alguma manifestação que não está presente nos locais onde se instalam essas iniciativas, revela-se algo de novo para aquela tribo.

Não ficarão somente ao redor do chocalho, do atabaque e do ganzá. Poderão saber o que é o som do oboé e combinar com esse novo som os antigos que conheciam tão bem e praticavam. Democratiza-se a cultura. Porque o conceito de cultura para Zona Sul é um; e outro para as demais regiões. Excetuando-se parcela da Zona Oeste onde está fincada a Barra da Tijuca. Este é o motivo pelo qual a Lona deve se instalar na Pavuna, em Éden e outros lugares com parcerias entre prefeituras. Porque se deve fugir do dirigismo cultural. Para quê Caetano Veloso somente para as massas que acorrem à Lapa e pagode do Moleque Atrevido para a população destes outros cantos? E se invertêssemos esse jogo de fundamentalistas culturais, puristas que acatam uma mentalidade tacanha que se expressa da seguinte forma: "Eles simplesmente não irão entender. Então, mande o Caetano para o Circo Voador". A hipótese é para compreendermos o raciocínio utilizado para empurrar-nos uma sub-cultura, mesmo sabendo que o Circo Voador não faz parte do circuito de Lonas.


E por que motivo – outro – elas devem ser bandeiras de cultura do local onde estão instaladas? Porque não se pode mais exportar para Zona Sul talentos nascidos nos rincões da Baixada Fluminense e Zona Norte e estes serem aculturados, englobados a tal ponto que esquecessem suas origens, ou fazem uma política mezzo a mezzo para não serem tratados de traíras. E o motivo principal: gerar trabalho e reconhecimento destes artistas locais que são tão ou mais talentosos que aqueles endossados pela mídia, promoverem a integração cultural da região através de festivais que somem as tendências, defenestrar de vez essa apartheid cultural que só fortalece aos senhores de engenho, aos burgueses, aos manutencionadores da miséria, que quer o povo do gueto – expressão dos manos – dividido e explorado.


A Lona Cultural de Pavuna deve ser um quilombo de resistência cultural desses novos escravos que o capitalismo gerou, mas não integrou, cooptando suas melhores cabeças através de promessas de emprego públicos de baixo clero. Tornando a repressão um mecanismo de pobres contra pobres, pretos contra pretos. E os demais sendo manipulados pela indiferença, pela apatia, pela nulidade que o Estado impõe a ele, incutindo de que o individuo é incapaz de mudar a sua situação social, pregando este estacionismo geral e irrestrito, levando a repetição dos status colonial; somos todos capitães do mato caçando irmãos da mesma cor.


O que pode reverter isso? Uma parte dessa tragédia pode ser sanada através de ações como a criação de pólos culturais. Mesmo com o desinteresse da população local, com a preguiça do poder público, da descrença dos artistas, da desistência civil em relação aos seus direitos, somente ações terroristas culturais podem surtir o efeito desejado em um prazo ainda bastante longo. A Lona Cultural de Pavuna é uma realidade que precisa ser posta em prática logo para que as mentes ainda sãs que lá existem não sejam contaminadas por essas ideologias conservadoras que não pretendem alçar culturalmente o restante da população do Estado, porque desejam que a massa de manobra continue existindo, que não se precisa de empregadas domesticas, motoristas e policiais que pensem. Só repitam a mecanização de ação elaborada pelo alto escalão – perdoem-me as rimas pobres. Quem sou eu? Ninguém, se sozinho lutando por essas idéias. Mas unido com pessoas de boa – fé, com disciplina e união, não é difícil se atingir um ideal destes.

POR
MARIEL REIS
ESCRITOR

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