segunda-feira, 30 de março de 2009

As grandes Ong's, uma maquinação perversa Criada pelo Sistema?

Por Mariel Reis
O Estado entregou nas mãos da iniciativa privada o processo de liquidar as favelas do Rio de Janeiro.

No período de reformas urbanísticas, Pereira Passos derrubou morros, expulsou populações para regiões distantes e deu ao Rio de Janeiro um ar parisiense. A população ficou satisfeita. Dito desta forma, a burguesia crescente se deu por achada e protegida sem a presença incômoda dos pobretões para enfeiar paisagem tão bonita.

Não se sabe para onde os favelados foram. Pelo menos, eu não tenho notícias.

Na década de 60 outro movimento parecido. Pode ser visto e atestado em produções como o filme Cidade de Deus. A ironia é de que a Barra da Tijuca cresceu para onde tinham sido enviados em eterno exílio os descamisados desta terra.

Nisto, com tantos desníveis sociais e soluções paliativas a marginalidade toma conta dos conglomerados de excluídos. A violência se espalha. O tráfico de drogas se institui como crime organizado. A merda está feita.

Isto resultado de uma ausência de política para resolver os problemas desta gente. Desde o Morro da Favela – daqueles brasileiros legítimos que o Estado usou para dizimar Canudos – hoje, Morro da Providência – ignorando-os à época e hoje. Estendendo-se a todas as outras favelas desse queridíssimo Brasil varonil.

A classe média queria reagir. Parte dela, católica, propôs a construções de edifícios para abrigar a população favelada – isto no período da ditadura. Um certo religioso achou que desta maneira, retirando as pessoas de casas de pau a pique e as transferindo para apartamentos com o mínimo de conforto, resolveria o X do problema( Refavela, muito bem retratada pelo grande compositor brasileiro Gilberto Gil)).

A história mostrou que não. Vieram os assaltos. Os seqüestros. Cidades imobilizadas pelo poder de narcotraficantes.
O Estado através de ações como Favela – Bairro procurava mostrar preocupações com os mais necessitados. Eles, que eram seus cozinheiros, passadeiras, porteiros, faxineiros, motoristas e babás, não poderiam continuar sob o jugo desse Estado paralelo. Precisavam ser civilizados. Uma nova onda de assistencialismo.

No fundo disto, crescia a raiva da classe média. Por que os assaltos ainda aconteciam? A gente não dá emprego a eles? O sentimento humanitário deu lugar a aversão, porque começaram a ver em cada favelado, em cada garoto pobre e preto um agente das desgraças que lhes aconteciam. Não perdoaram. Políticas de faroeste foram implantadas. Prêmio por cabeça de bandido pendurada na parede do policial.

O Sistema só protege o sistema. Capitão Nascimento rezava. Era a luta do Bem contra o Mal.

O Estado mexendo seus pauzinhos para inutilizar este estado de Caos e Desordem. Fazer com que as favelas fizessem como Glauber Rocha, dissesse ave meus torturadores!

Como se eles resistiam a sociedade legal? Se viam nesta seus traidores, seus Judas, os matadores de Cristo? Era preciso que o Estado se travestisse para atingi-los. E foi o que ele fez. Vestiu-se de Ong’s e se meteu nas noites das favelas do Brasil.

Agora dariam a comida e o ensinamento para militar. Não precisariam mais que suas filhas se formassem no Instituto de Educação para encabrestar toda a massa de famintos. Não precisariam que seus filhos virassem policiais para reprimirem aqueles que lhe invadiam as casas. Formariam milícias de famintos em troca de alguma inclusão social. Não toda, porque não querem nenhum desses meninos como chefe do Supremo.

O Estado começou sua cruzada. E o Globo dá a notícia que de uma forma ou de outra acabará ganhando. Um empresário alemão comprou 60 barracos no morro do Vidigal. Fará um empreendimento turístico. Gerará emprego na favela. Como ele é um bom sujeito. Ainda quer estimular que empresários americanos e holandeses comecem a fazer o mesmo. Até que toda a favela esteja comprada e sem mais nenhum pobre para atrapalhar a Avenida Oscar Niemeyer. O Estado está feliz, porque daqui a pouco aquelas pessoas empregadas estarão achando que devem a vida a essas pessoas e não hesitarão em pegar em armas para expulsar das terras de seus benfeitores os assassinos. Repare que este tipo de iniciativa somente se dará nas áreas nobres da cidade. Que nenhum empresário irá comprar o Complexo do Alemão ou a Favela da Maré.

A idéia é livrar a Zona Sul destes invasores.

Viva Vidigal feliz quando for um complexo com hotéis, restaurantes e cassinos e os moradores forem barrados de entrar porque seus crachás os obrigarão a não passar da cozinha.
"Comentário de um morador: As Ong's são boas. Cuidam das nossas crianças, investem na educação e civilizam. Só que de uns tempos para cá eu tenho notado que eles estão tomando conta da nossa história, explicam do modo deles e não se importam em manipular a memória do lugar como querem. Daqui a algum tempo não saberão mesmo os motivos reais porque criamos essa favela, incutirão na mente deles que somos expropriadores, terroristas. Pessoas que roubam o que é dos outros. Não dirão que um dia nós pedimos e eles não deram. Dirão que roubamos. E os meninos vão acreditar, porque ganham tênis, roupa e algum dinheiro. E, arrisco mais, irão matar os primos que estão no tráfico, porque eles machucam esses deuses. Sou contra o tráfico, mas formar milícias através dessa ideologia de que somos vilipendiadores. Sou contra. Devem acabar com as duas coisas: o tráfico e as ong's. Ambas são nocivas. O Estado que é laico deveria assumir o papel de salvar essas crianças da orfandade. Salvando-nos de uma futura malhação."

MAQUINAÇÕES PERVERSAS (ALJOR E MARKO ANDRADE)


São maquinações perversas
São maquinações
São maquinações diversas
São maquinações

Vigiando e punindo
Administrando os desejos
Agenciando produzindo
Disciplinando os corpos
Com açúcar sem chicote

São maquinações perversas
São maquinações
São maquinações diversas
São maquinações

A menina com umbigo de fora
Toda pra fora
Cheirou uma baby cola
Virou presa do chiclete bola
Arrotouuuuuuuuuuu

São maquinações perversas
São maquinações
São maquinações diversas
São maquinações

O menino do Rio
Leu um caderno besta de um jornal
Ligou a televisão ficou de quatro
E sorriu

São maquinações perversas
São maquinações
São maquinações diversas
São maquinações
Mariel Reis, escritor carioca, colunista do Globo on-line, integrante doGrupo Cultural Na Pavuna

2 comentários:

Monotelha disse...

os favelados foram alguns mortos ,mas não a maioria para chamar a atenção e por estes infelizmentes fazerem parte desse jogo.

Monotelha disse...

globo faz e fez o que mesmo ? contradizer é um negócio feio . . .